sexta-feira, 18 de junho de 2010

A televisão me deixou burro

- Mil quatrocentos e quanto???

Nem terminei de ouvir a proposta indecente do vendedor. Ora... precinho salgado para ver essa Copa de caneladas mil numa TV nova, hein?!

Tentei comprar uma mais na onda de ter algo moderno em casa, mesmo não sendo lá meu feitio. Meu televisor atual emite seguidamente uma onda sonora incrivelmente irritante e aguda, próxima ao ultrassom. Incomoda pra caralho, o gato de casa fica louco e a família briga. Tivesse eu perto do botão-da-bomba, tratava de mandar um continente pelos ares! Então, lá fui eu para adquirir a tão sonhada telinha de LCD ou plasma, tanto fazia. Falo dessas maravilhas planas, pretas e com a base pesada, que decoram desde salas da burguesia a casas de emergentes. Em qualquer um dos casos, creio que nunca seriam ligadas mesmo.

Mas a real é que foi sorte estar tão cara. Pensando friamente, não há vantagem alguma até agora em você pegar seu rico dinheirinho e torrar num aparelho desses. Sim, eu também já vi as propagandas dizendo sobre a bestial vantagem do mundo digital, como o sinal que vem sem chuviscos e fantasmas, enaltecendo a riqueza de detalhes das imagens. Só que eu devo estar de muita má vontade com o modus vivendi atual mesmo.


Já passei pelas lojas que vendem essas coisas e vi os vídeos que os malandros botam a rodar para convencer o cliente. É só filmagem de paisagens vastas, detalhes em close de plantas supercoloridas, água corrente e movimentos de águias americanóides em câmera lenta. Lindo, não? Não. É só grudar o olho na tela e ver a intensa pixelização, o contraste ligado às ganhas e a imagem alargada, fazendo a Xuxa engordar não os outrora 5, mas 10kg. Nem experimente ver a programação da TV aberta num objeto desses: os chuviscos, que foram tecnicamente banidos, aparecem como que por mágica.

Talvez seja um processo inevitável, esse, de jogar fora sua velha TV de tubo de raios catódicos (nome bem mais afudê que "tevê de plasma"). As imagens que chegam da Copa da África já descem previamente esmagadas para quem assiste pelo tubo. Logicamente, ficariam normais numa tela mais larga; por isso é de propósito os malditos tira-teimas com marcações fora dos limites laterais de sua velha Philco-Hitachi.

Em breve aparecerá um grupo saudosista zelando pela eternização da TV de raios. E estarei com eles, baseado nos mesmos princípios que prendem milhares de músicos aos ainda perfeitos amplificadores à válvula. E ao fato de poder assistir a velha tela de lado, e não só em linha reta.

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