quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mini-conto IX

Ciuminho

- Bah, tu nem sabe, amor!
- Que foi?
- Uma guria me contou que o Nelson Mandela morreu! Porra, o negrão foi o cara que melhor agregou valor e crédito ao movimento ativista anti-Apartheid. Tá ligada? Ele lutou por isso, enfrentou 27 anos numa prisão de merda na África do Sul, sofreu cirurgias, saiu da prisão, foi eleito presidente, ajudou o país a se unir criando uma aura em torno da seleção de rúgbi em 95 e hoje é tipo uma divindade pra África. Tipo, claro que ainda há racismo, mas não é mais aquele lance legalizado de escolas pra negros, escadas, ônibus, cargos públicos. Tô chateado, na boa...
- Qual guria...?

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Mini-conto VIII

O Capital mata


Dizia Miguel que a turma dele não vivia naquela base de se preocupar com grana e tal. Havia cooperação dentro da pequena república em que eles viviam, no coração da cidade. A comida era compartilhada, as produções artísticas eram divulgadas da mesma forma, o trabalho não respeitava os padrões tradicionais do Capitalismo Imperial que os americanos tentavam empurrar pra gente...

Me pareceu interessante.

Um dia, exatamente 1 mês depois de ele ter chegado à casa, foi a vez de ele pagar o aluguel. E a luz. E a água. O gás também. A conta do IPTU? Essa também.

Era demais pra filosofia do rapaz: juntou seus quadros, roupas de tecido reciclado, a cerveja do dia anterior, o iPhone e se mandou de volta pra casa dos pais, no subúrbio. Um grito de revolta.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Mini-conto VII

 Olha

- Isso é pavê, não pacumê!

Até hoje, Mário acha que todos cometem um puta pecado quando devoram a tal sobremesa.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mini-conto VI

Curetagem

Jocele deciciu tornar-se vegetariana, depois de ver um vídeo onde porcos são chutados e agredidos até a morte. Vegana, melhor dizendo. Pesquisou alimentos que não levavam partes de animais e iniciou rígida patrulha entre amigos até que uma parte razoável desses se tornasse adepta de sua filosofia.

Um dia, a guria passou mal. Foi-lhe recomendada uma carga de polivitamínicos, para compensar a falta de ingestão natural de determinadas vitaminas e nutrientes. Passou um ano tomando. Ficou ótima.

Mas dia desses parou no hospital, em estado de choque, depois que descobriu que deveria ter pesquisado melhor sobre remédios testados em bichos.

Mini-conto V

 Toda manhã

Postava todo dia dicas de como sorrir e ser feliz num mundo áspero.

Um dia, casou, teve filhos e uma série de contas a pagar.

Mini-conto IV

Cisplatina

Queria invadir o Uruguai para se apoderar das fábricas de doce de leite. Ficou preso na aduana, porque levava cortes de carne gaúcha para o país vizinho.

E voltou a Porto Alegre sem saber que a carne uruguaia é melhor que a brasileira. Morreu esses dias, engasgado com uma colherada de Lapataia.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mini-conto III

La cuadra negra


Ela se encantou com a ideologia e movimento do Black Block. Um dia, participou de uma manifestação. Destruíram a fachada e os caixas eletrônicos do Itaú, porque o banco representa o que há de mais maléfico em termos de Capitalismo opressor de povos emergentes.

Meses depois, descobriu que estava grávida. O pai era do mesmo movimento. As famílias obrigaram os dois a casar, caso contrário não haveria facilidades pra eles. Precisavam de um lugar pra morar, coisas pro nenê vindouro...

O sogro da menina lhes concedeu um empréstimo. Ele era gerente adivinhe de qual banco?

Viveram felizes, mas cheios de culpa, para sempre.

Mini-conto II

Azul tipo o mar


Gremista modelo de ferocidade. Renunciou à Medicina no Brasil por não suportar ver a cor do sangue. 

Foi pra Inglaterra tentar tratar da Realeza.

Mini-conto I

Rojo hasta la muerte


Tão colorado, ele...

Um dia, num ato bobo e instintivo, olhou pro céu durante o dia. Estava nublado e cinza, por sorte. O ataque cardíaco não foi fulminante.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Oitenta



Com algum esforço, consegui tirar a quase dezena de caixas de papelão que sobrepunham a caixa que eu queria: a das fotos. É, poderiam, esses retratos, estar em um lugar melhor que algo que seja de papel. Mas mesmo assim é ali que estavam, debaixo de alguns quilos de documentos e outros badulaques, os registros da vida da minha família.

Comecei a abrir álbum por álbum, a maioria datado da década de 80. Sabe, tem aquela coloração já quase violeta, detalhes granulados e cheiro forte. Fotos pequenas, dos antigos rolinhos Kodak, com o mês e ano da revelação impressos no cantinho.

Era véspera de aniversário; eu estava fazendo 24 anos. Aquilo batia forte... puxa, daqui a um ano, terei um quarto de século de vida. E mais 5, terei trintão! Para quem tem mais que isso é normal rir da cara de quem é mais novo, arrotando experiência. Eu mesmo faço isso quando converso com criaturas mais novas, como se isso desse um valor inestimável a cada frase e entonação proferidas por gente mais vivida.

Quando vi os brinquedos com os quais posei nas minhas fotos, chorei. Tá, não foi um choro fiasquento e piegas. Com o quarto tendo seu ar impregnado com o odor de coisa guardada e música dos oitentistas indo direto nos meus ouvidos, fiz com que a lágrima que insistia em sair do olho direito não tivesse obstáculos. Era uma lágrima sincera, chorada por um sujeito que tem em sua infância um porto seguro a cada vez que se sente acuado num mundo louco como o de hoje.

O tempo passa rápido demais. Sinto a cada dia que a frase “nossa, como passou rápido esse ano...” dita com espanto ao final de 365 dias não é nada imprevisto. O tempo passa, mesmo, rápido demais! Não é exclusividade desse ou daquele ano. E o bolo de aniversário vai ficando pequeno para tanta vela.

Passei por péssimos meses pensando que estava ficando velho e inútil. Ou eu passaria toda minha vida pensando isso e me amargurando ou dava um jeito de engolir em seco e pensar no saudável “ah, dane-se!” que temos de usar diariamente. Quando eu já estava quase conseguindo me convencer que 25 anos seria só um rito de passagem, resolvi questionar uma pessoa com mais cancha que eu:

- Pai, tu acha que o tempo passa muito ligeiro?
- Hmmm... SIM!
- Putz... hã, então, tipo... desde que eu nasci, tu acho que foi muito rápido?
- Hmmm... SIM!
- Ah, meu Deus...

É isso aí! Se é pra ficar velho, que seja para ganhar essa manha de ser rasteiro nas respostas e lúcido para sanar as dúvidas e “tranqüilizar” os mais novos.  

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Latitude


Cheguei em São Paulo e perguntei qualquer coisa:

- Oi, você é de Curitiba?
- Não, na real sou de Pooorto. - respondi eu, com um sotaque do Bom Fim que nem eu sabia que tinha.

Parece que se eu falar pra alguém do Centro do país, via telefone, que sou de Porto Alegre, a coisa sairia assim:

- Sim, sim, de Porto. Não Florianópolis, Porto Alegre. Isso, perto de Gramado... como "onde"? No Rio Grande do Sul, tchê! Nããão, Curitiba é Paraná. Floripa é Santa Catarina. É abaixo de Santa. Acima do Uruguai. Olha... Montevidéu é a capital do Uruguai, é acima disso. Abaixo de Gramado. Não, não é terra de chocolates, nem Serra. Porra, nós estamos na beira do Guaíba! Um rio... bom, não é um rio, é um estuário... a terra do Inter e do Grêmio! O Inter, de Gramado? O Grêmio, de Montevidéu? Pirou, né? Doce de leite? Cara, lá a gente come Mu-mu, desculpe!

E assim segue a gana de o pessoal querer se separar do Brasil.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Vai ser gauche na vida...

Foi Drummond que escreveu a frase do título, né? Chato pra caralho!

Pois nasci em Porto Alegre, tchê! Fui criado no complexo de bairros populares (gurizada de classe média baixa, média e alta; eu era/sou da casta média) Rubem Berta, limite com Alvorada. Até os 7 anos vivi no Leopoldina, e depois até os 14 no sub-bairro à frente, o Santa Fé. Se esse distrito gigante se separasse, dava uma cidade razoavelmente populosa e pobre.

Separatismo que está ligado ao DNA do gaúcho. Diferentes razões nos levaram a tentar uma separação do resto do Brasil. Impostos nos tempos do Império, interesses de estanceiros maçons que tinham terra no Uruguai, num tempo em que Rio Grande do Sul e o país vizinho eram quase a mesma bosta, diferenças culturais, bairrismo, preconceito e nariz empinado.

A publicidade se vale bastante do gauchismo. Fôlderes e campanhas na TV e na Internet enaltecem o orgulho pelas coxilhas e pelo meu pampa, pelos costumes/cultura e pelo sotaque adotado abaixo do Mampituba. E vendem bastante fingindo que são mais sulistas do que sua razão social pode sugerir.

É um terreno quase sagrado. É, na real: experimenta dar uma de fiasquento e falar mal do RS num Acampamento Farroupilha! Tu vira carne de churrasco.

O Gaúcho é um sujeito que se veste de uruguaio e francês, fala Português (mas que nem argentino), toma bebida italiana e vai a festas alemãs. Isso tudo num momento só. Com tanta mistura, parece limitado que usemos como música tradicional esse som de CTGs, que é um estilo que já sobrevive por si só, sem necessariamente fazer apologia a tradições. Nenhuma das músicas é cantadas em Espanhol, todas sem referências açorianas ou charruas ou colocadas de maneira tímida como china virgem. Frescura minha, eu sei.

É que essa alma castelhana é algo implantado pela Literatura. O gaúcho clássico deve a guaiaca a Simões de Lopes Neto, criador do eterno Blau Nunes, personagem que absorveu TODOS os valores atribuídos ao guasca médio. A folia projetada em volta de peões mestiços é grande demais. Passou dos limites do lógico. Mesmo sendo uma nação criada por índios desgarrados, negros, castelhanos perdidos, paulistas, italianos e alemães, com ou sem as virtudes propagadas pelas planícies do Sul, achamos ainda que somos só uruguaios. Isso mostra o quanto nosso orgulho é vazio na essência, apesar de ser divertido o facto de vermos a América de cabeça pra baixo.

Infelizmente, meu estado não está entre os mais desenvolvidos economicamente. Somos dependentes da força motriz do centro do país. E é por isso que se engana feio quem acha que sobreviveríamos autossuficientes numa utópica República do Pampa. O que julgamos roupa típica (a pilcha, composta por botas, bombacha, camisa, poncho no inverno, lenço e chapéu), é fantasia. Pro camponês uruguaio, é roupa de trabalho.

Dizem que o RS é o estado que mais lê. Olha, sou professor no interior e posso dizer que se essa estatística tem fundamento, temo pela quantidade de iletrados em outros estados. Cantamos em altos brados um hino que fala de uma luta de burgueses vs. Império e que acabou em empate: ninguém venceu, ninguém perdeu; a Revolução Farroupilha parou depois de um acordo.

Então, quando eu lembro do subúrbio da capital, que carrega um sotaque intermediário entre o interiorano e o bonfinesco, saco que cantamos de um jeito e nos imitamos de outro. Falamos tchê e bah!, mas as nuances de vocabulário e entonação nos diferenciam entre nós mesmos, por mais que o estereótipo tente uniformizar.

Se eu gosto do Rio Grande do Sul? Sim, sim, mas hoje mais pelo fato de lembrar seus irmãos culturais, o Uruguai e a Argentina. Como se fôssemos um pedacinho platino em pleno ziriguidum olelê tupiniquim.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Livre

Os avisos de "prejudicial à saúde" em bebidas e cigarros é o expoente máximo do que consideramos o livre arbítrio.

"A parada é ruim e faz mal... não estamos obrigando a usar. Tu quer? Bom... avisamos, hein?" E o cidadão vai lá e se afunda nas porcarias. Que estão ali, né? Compra se tu quer.

Por mais que o politicamente correto (já poderíamos escrever isso com letras maiúsculas, visto que é uma instituição) tente argumentar que o ser humano é um bom selvagem corrompido pelo Sistema, o cara ainda tem a chance de dizer 'não' pra alguma coisa.


Escrito sob efeito de uma Estrella Galicia geladíssima.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Definitivamente talvez

Primeira resenha sobre o Oasis (disco de lançamento), na Bizz de dezembro de 94.

Não precisa me agradecer.

"Você ainda acredita que uma banda que vem de Manchester (terra dos maiores pentelhos franjudos entediados do planeta) poderia ser a salvação do Rock n' Roll? Ainda mais quando o semanário britânico New Musical Express coloca o disco dos caras nas nuvens? 

Pela capa (com 'ponta' de Burt Bacharach) e pelas péssimas referências acima, você não desembolsaria nem 25 centavos por este CD, não é? Pois então agradeça a este serviçal por mais um favor prestado a seu bolso. Pode comprar tranquilo este Definitely Maybe, sem medo de ser ludibriado. Ele é honesto.

Oasis é um grupo que adora o palco, posa com os seus instrumentos e caga para o que a mídia pensa sobre eles. Isso não lhe cheira a Suede? Só que os caras merecem durar bem mais do que aqueles 'perobas' glitter.

Aqui há grooves de guitarras semi-acústicas sustentando as exímias composições de Noel Gallagher e aquela marca de quem leva a coisa realmente 'à sério'. Todas têm aquele caráter 'chapadão' típico do rock inglês.

Com certeza, não vão revolucionar porra nenhuma, como se anuncia por aí. É só mais uma banda que merece figurar na sua CDteca entre o Mudhoney e o Urge Overkill. O que já garante para eles uma cobertura com piscina no céu dos rockers."

Alexandre Rossi.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Popularidade fake

- ... e esqueci de dizer: muito bonita aquela foto que tu postou!
- Qual?
- A penúltima, com uma praia ao fundo. Que lugar era aquele?
- Ah, era em Cidreira, dia desses. Ficou realmente bonita... mas só deu 59 likes até agora.
- E desde quando isso conta alguma coisa?
- A mesma foto, igualzinha, no perfil da Mari deu 134!
- Psss... tá, e daí?
- E daí que parece que ela tá mais bonita, sei lá!
- Ai, ai... olha, Jana, eu entendo tua baita preocupação e até entendo tua lógica. Mas quer ver que, apesar de ter fundamento, tua lógica é perniciosa?
- Perni-o-quê?
- Saca: dos 59 likes que tu recebeu, digamos 40 sejam de guris. Certo?
- Certo.

- Os que não são veados (cerca de 35) querem, provavelmente, te comer. Certo?
- Hahaha, é... pior que é.
- Então, tu daria pra esses 35?
- Lógico que não!
- Provavelmente o plêiba pra quem tu quer dar nem curtiu ali... mas, enfim, desses 35, talvez só uns 2 ou 3 tenham a chance de sair com uma mulher linda que nem tu.
- Ai, brigada!
- E vê o caso da Mari. Se multiplicarmos proporcionalmente o número de gente que curtiu a foto dela, vamos ter uns 70 potenciais comedores da guria. Te pergunto (tu, que conhece ela): a Mari daria pra esses 70 caras?
- HAhaha, nem pensar! Fresca do jeito que é, se der pra 1 já vai ser lucro!

- Então, porra?! Que diferença prática tem se tu tiver 50 ou 100 likes na tua foto, se tu termina nem querendo satisfazer o machaiêdo que vai lá curtir? Só quer deixá-los na vontade?
- HahAHAha! Pois é...

- Prova cabal de que esse comportamento, o de provocar, o de deixar a galera babando e de ficar beiçuda por não ter tal número de 'legaizinhos', é absolutamente pernicioso
- Tá, não gostou da foto, é só dizer!
- Não, eu gostei... mas, enfim, não vou te comer mesmo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Super Ego

- Quê?! Ah, com certeza prefiro uma guria vestida de prenda a uma vestida pra baile funk.
- Sério?
- Sério. Pó perguntá de novo pra mim.

Eu e meus diálogos com meu Outro Eu.

terça-feira, 5 de março de 2013

Flores embaixo do meu travesseiro


Dar flores. Um dos mais ardilosos argumentos materiais já inventados pelo homem. Provavelmente proposto por uma donzela-em-perigo:

- Lêidi, tu sabes que te amo!
- Oh, Lórdi, então me prova isso!
- Como poderei provar esse amor maior que o mundo que nutro por tua pessoa, Milêidi?
- Com um doce e bucólico buquê de rosas silvestres, nobre cavaleiro!
- Pfff... taqueopariu...

Mas eis que apesar do preço empobrecedor de trabalhadores-braçais que um amontoado de plantas tem, o troço volta e meia funciona. Sabe, sempre achei que essa parada fosse mó clichê (bom, não deixa de ser) e tentei comoventemente usar a quebra de padrões como marca própria.

Mas testei antes. Não é assim "Pá, tive uma ideia do caralho!", não. Testa-se a teoria em amplo período de tempo e em várias cobaias até chegar próximo da perfeição.

Comecei com a Fernanda, namoradinha que estudava francês. Ia visitá-la de moto na cidade ao lado e achava que em pouco tempo teríamos um relacionamento próspero e duradouro. Inovei: em vez de flores de floricultura, sementes de amor-perfeito. Ela plantando soaria como o cultivo do amor entre os dois. Não te parece genial? Pois é, pra mim parecia.

E Nandinha achou o máximo. Plantou mesmo, diz ela. O namoro durou duas semanas. 

Depois, testei com uma mocinha de longe, outro estado. Júlia era uma mulher interessante e que compreendia bem esses desvios de padrões. Num de nossos esporádicos encontros, lá fui eu com o mesmo pacotinho de amores-perfeitos. As sementes não vingaram, mas o namoro foi um pouco mais longe: 1 ano e 8 meses.

Acha que me dei por vencido? A parte alemã dos meus genes não deixa eu desistir fácil. A próxima era Laiana, e tentei essa parada de novo. Pacotinho de sementes da mesma flor.  Vamos combinar que amor-perfeito é bonitinho, né? Plantei junto com a guria, pra ter certeza. Tenho mão boa para fazer as plantinhas nascerem, tem que ver. Germinaram. O cachorro comeu tudo. Namoro que durou 5 meses.

Já abatido com isso, parti pra outro teste. Mencionei o assunto 'flores' com Isa:

- Bah, não gosto de flores...

Cobaia perdida. Nem o fato de eu ter feito um jasmim nascer de uma flor adiantou. Namoro durou 2 anos, com mais um ano de idas e vindas. Nem insisti com as sementes.

Entende? Eu precisava de algo que compensasse o complexo de feiura que carrego desde o 2° grau. Um dia vi uma lista como nomes de guris na mesa de duas meninas interessantes. Inocente, acreditei que fosse "Os Caras Mais Legais da Sala".

Não era. Fiquei em vice no campeonato interno dos mais feios. Perdi o título pro colega que sentava ao meu lado. Foda.

Com a próxima namoradinha, alterei levemente a estratégia. No lugar de um envelopinho com girinos de flores, um vasinho com uma já crescida e devidamente cultivada. Uma violeta, para desequilibrar a equação. Muito bem recebido o presente, pouco deve ter durado na mesa de trabalho dela. Assim como a relação: três meses.

Mesmo sendo brasileiro (ou germânico, como antes admitido), quase larguei de mão a pesquisa de campo. Não é fácil ter uma ideia fofa de cultivo de um romance e ser solenemente ignorado nas boas intenções. Então, seria mesmo o tal buquê de rosas a grande arma para atingir em cheio os corações femininos? Não, não podia ser.

Com Júlia busquei outra alternativa: uma florzinha simples, dessas que dão em árvore e tu estoura com os dedos. É mó charme a parada! E é meio sulamericano: os ianques não conhecem, vejam só. Então, dei uma desses botões pré-fechados para a moça, uma linda moça, e ela adorou!

Relacionamento? Dias, não mais que isso.

Quando vê, o esquema é usar os já defasados carros de mensagem na porta do trabalho da pretendida:

- Atenção, Fulana! Essa... é uma mensagem de amor!
(entra o som do clarinete de Kenny G ou o tema de Titanic e sai eu do Celta com rosas brancas polvilhadas de purpurina e cola cintilante e um texto padrão ao fundo)

Há alguma estratégia para as oportunidades vindouras? Nem eu sei. Basicamente esperarei que os discos de vinil aqui me deem alguma luz sobre como proceder nessa dura batalha pela arma perfeita na arte da conquista. Até lá, sem bombons, flores e cachorros-quentes.