sábado, 27 de fevereiro de 2010

Considerações fundamentais sobre a intimidade da pessoa humana

- Cara, tu é meu bróder?
- Olha, tchê... sou, né? Às vezes penso: "Putz, é meu amigo, essa porra, aí..."...
- Tá, tá. Bom, meu, tenho que te contar uma parada.
- Ih, comeu a namorada do teu pai de novo? Hehehhe... aquela vez foi foda...
- Éééé... não. Na verdade, não tem a ver com isso. Quer dizer, tem! Mas é que é coisa pra contar pra amigão mesmo.
- Conta duma vez, então. Ainda tenho que cagar antes de a gente dar uma banda.
- Bah, mas não é assim, né?
- Seja lá o que for, tu já falou com teus véio?
- Nem pensar! Não dá, cara! Não vou contar pra eles. É justamente por isso que resolvi contar pra ti primeiro... se eles descobrem de sopetão, eu tô frito! Meu pai certo que me mata. Minha mãe entenderia, acho... mas ia ficar muito de cara comigo.
- Opa... o negócio é feio, então.
- É, sei lá... tipo, preciso desabafar. Foi uma experiência única. Me senti bem, mas fiquei com um pé atrás, imaginando o que os outros poderiam pensar de mim.
- Caralho, bicho! Tu matou alguém? Roubou?
- Era pra ser engraçado? Lógico que não fiz isso! Olha bem pra mim...
- Nos dias de hoje, vendo o que eu vejo, tenho até medo do que tu vai me contar.
- Cara, tô desesperado. Eu lembro de um curta-metragem que eu vi em que um maluco ficava de cara pruma câmera, saca? E ele enrolava, dizendo que ia contar algo muito sério sobre a vida dele, coisa que não era fácil de admitir...
- E? Que que ele disse?
- Aí é que tá: o curta baixa o som da voz do malandro bem na hora em que ele vai falar... fica só a imagem, que começa a ser coberta por chuviscos, pra dificultar a leitura labial. E uma montoeira de ruídos para dar um ar psicodélico e tenebroso...
- Sei... tchê, não sei o que te dizer. Se é grave o que tu tem pra me dizer, acho que eu sou mesmo o indicado para ouvir. Mas já aviso que eu posso não entender tão fácil.
- É, tô ligado! Bicho, foi demais para mim. Abriu um mundo novo, que eu não conhecia. Um mundo lindo, onde as coisas e as pessoas são mais lindas.
- Claro...
- Fiquei angustiado, mas foi bom. Foi gostoso!
- Mmmm...
- Quero dividir isso contigo. Os guris e meus pais não compreenderiam totalmente. Tu, sim.
- Eu...
- Mudou minha vida. A partir de hoje, sou uma pessoa diferente!
- Diferen... ah, meu. Conta logo! Tô ficando curioso. Mas vê lá. Sou jovem demais para emoções fortes.
- Posso dizer?
- Ai, ai, ai... até pode. Só não me peça para fazer as coisas iguais a ti, pois eu tenho minhas convicções. Parece que eu já sei o que tu vai dizer...
- Eu provei ácido!
- ... quê?!
- Sério, meu. Pirei no negócio!
- Tomá no cu...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ensaio conclusivo sobre as relações humanas modernas

- Mas o que significa isso???
- É, mãe... é o amor da minha vida!
- Bom dia, dona Joana! Prazer em conhecer a senhora. Meu nome é...
- Nananananão! Não me interessa seu nome, criatura! Marquinhos, espero que tu tenha uma explicação!
- Calma, mãe... poxa, um pouquinho de respeito é bom, né?!
- Que que tá acontecendo aqui? Que balbúrdia é essa?
- Pai, a mãe resolveu implicar até com meus namoros agora! Não vai me dizer que tu também...
- Opa, opa, opa... namoro?! Ô, guri, tu tá brincando com nossa cara?
- Bom dia, seu Edevair! Muito prazer...
- Guarda pra ti esse prazer! Marcos Souza, foi pra isso que eu te criei? É pra chegar em casa, sem avisar nada e me dar esse desgosto logo a essa altura do campeonato?
- Mas, pai... eu acho que seria legal vocês ficarem por dentro dos meus relacionamentos. Depois vocês dizem que eu não conto nada pra ninguém, que tô escondendo meus sentimentos...
- Filhinho, mamãe sabe que tu só quer ser feliz...
- Exato, mãe. Eu quero ser é feliz. É assim que eu sou, queiram vocês ou não.
- Ai, ai... Joana, busca meu remédio pra pressão, rápido... não tô bem... dor no peito...
- Marcos, acho melhor eu ir embora. Posso conhecer teus pais em outra ocasião, né?
- Não! Tu fica, amor. Eles são meus pais e tem que entender, ora...
- Filho, teu pai tá passando mal. Eu te entendo e vou te dar apoio... mas tenho que confessar que minha dor é tão grande quanto a do teu pai!
- ... e me dói a alma vendo esse guri de merda me traindo dessa forma. Fui sempre um pai dedicado...
- Sempre, pai. Não posso reclamar.
- ... pra vir logo hoje e me mostrar seu lado mais desumano?! Tu tá sendo mesquinho, Marcos Souza! Tua mãe e eu estamos velhos demais para suportar a pressão. O que que os outros vão pensar de nós? Que a gente errou em algum ponto, claro! "Pais desinteressados, libertinos..."
- Para de drama, pai! Mãe, fala pra ele que é uma opção minha. Eu trabalho, estudo, sou um cara legal, todo mundo gosta de mim, não uso drogas...
- Sei, Marquinhos...
- Ele é uma pessoa boa, seu Edevair.
- Alguém diga para essa pessoa indesejada para ficar quieta! O assunto é de família! Marcos, tu só tem 16 anos... é assim mesmo que vai ser daqui pra frente?
- (suspiro) É, pai... é assim. Eu só... eu só não entendo o porquê de tanta ignorância por parte de vocês.
- A gente esperava mesmo que um dia isso ia acontecer. Quanto a namorinhos, mais que normal. Tu é jovem, tá na hora mesmo. Mas admitamos que fui pego de surpresa: nunca pensei que tu fosse namorar assim... desse jeito...
- Assim como, pai?
- ... com uma MULHER!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A manha da folga no volante


Dia desses eu tava conversando com um o Igue, ex-The Mostards, sobre carros e coisas das quais os Beach Boys tanto falavam antes de 66. Comentamos que há carros que são fáceis demais de dirigir e que poucos têm algo de complicado para atravancar o caminho do motora.

Até que lembrei da minha Kombi:
- Cara, é um Volkswagen, basicamente... uma barbada de dirigir, vai dizer?! Não tem que ter "manha" pra pilotar essa coisa...
- Pode crer...
- É, a não ser pela folga do volante. Quem sacar qualé quié e souber disso já antes de assumir o posto do condutor, já anda nela sem mistério.

A folga do volante. Certamente, uma patricinha dirigiria tranquilamente um Clio ou Ka da vida, mas teria tremenda dificuldade em manter uma Kombi em linha reta na estrada. Leve-se em conta que a folga da direção (que faz com que ela gire em falso alguns centímetros sem que o curso do carro mude) é uma instituição do veículo. É um handicap, um nível de dificuldade a ser vencido e, talvez, sem o qual dirigir um carrão desses não tenha a mesma graça.

É assim com determinadas bandas. Não se pode entregar um disco do Sonic Youth para uma menina-média do interior (dessas garotas ecléticas, sem gosto musical algum) esperando que a incauta saia cantarolando ipsis litteris o som dos malandros. Existe um sério handicap ali. A guria teria que ter uma tonelada de informações ou bagagem musical para sacar do que se trata.

Há bandas e discos, portanto, que devem ser 'entendidos' antes de serem apreciados. Pet Sounds tem um nível de dificuldade; antes dele não havia. O velho Sgt. Pepper's tem; o ié-ié-ié não. The Cure não tem, mas Joy Division, sim. Legião Urbana desce sem problemas... mas Vulgue Tostoi é terrível.

Desconfie seriamente quando algum pós-adolescente chega em você com aquela tradicional empáfia e trejeitos oculares de quem sabe muito mais que você. Pode ser mesmo... mas ele tentará empurrar goela abaixo alguma Kombi com três voltas de folga no volante, fazendo você ficar tenso e preocupado, tirando o prazer de dirigir. Handicap, sim, mas sem exageros, não é?
Em tempo: não é só a direção que tem manha. O câmbio dá umas enganadas também.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

JET - Shaka Rock (2009)






Você lembra daquela banda afudê, Jet, que apavorou o mundo em 2003 e 2004, com um disco do caralho, o Get born? Lembra que "Are you gonna be my girl" era o hit das bandas côveres? Sacou que "Last chance" é a música do 'Lata velha', no Caldeirão do Huck? Manja do arrepio que você sentiu ao ouvir a balada "Look what you've done", que remetia ao fino do Rock inglês? Recorda da porrada nos ouvidos que "Cold hard bitch" e "Rollover DJ" causavam? Lembra também que tudo parecia uma vistosa e persuasiva mistura de doideira, AC/DC e Oasis?


Pois é...


... essa banda massa pra caramba acabou em 2006, no lançamento de Shine on.