sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Mini-conto VIII

O Capital mata


Dizia Miguel que a turma dele não vivia naquela base de se preocupar com grana e tal. Havia cooperação dentro da pequena república em que eles viviam, no coração da cidade. A comida era compartilhada, as produções artísticas eram divulgadas da mesma forma, o trabalho não respeitava os padrões tradicionais do Capitalismo Imperial que os americanos tentavam empurrar pra gente...

Me pareceu interessante.

Um dia, exatamente 1 mês depois de ele ter chegado à casa, foi a vez de ele pagar o aluguel. E a luz. E a água. O gás também. A conta do IPTU? Essa também.

Era demais pra filosofia do rapaz: juntou seus quadros, roupas de tecido reciclado, a cerveja do dia anterior, o iPhone e se mandou de volta pra casa dos pais, no subúrbio. Um grito de revolta.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Mini-conto VII

 Olha

- Isso é pavê, não pacumê!

Até hoje, Mário acha que todos cometem um puta pecado quando devoram a tal sobremesa.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mini-conto VI

Curetagem

Jocele deciciu tornar-se vegetariana, depois de ver um vídeo onde porcos são chutados e agredidos até a morte. Vegana, melhor dizendo. Pesquisou alimentos que não levavam partes de animais e iniciou rígida patrulha entre amigos até que uma parte razoável desses se tornasse adepta de sua filosofia.

Um dia, a guria passou mal. Foi-lhe recomendada uma carga de polivitamínicos, para compensar a falta de ingestão natural de determinadas vitaminas e nutrientes. Passou um ano tomando. Ficou ótima.

Mas dia desses parou no hospital, em estado de choque, depois que descobriu que deveria ter pesquisado melhor sobre remédios testados em bichos.

Mini-conto V

 Toda manhã

Postava todo dia dicas de como sorrir e ser feliz num mundo áspero.

Um dia, casou, teve filhos e uma série de contas a pagar.

Mini-conto IV

Cisplatina

Queria invadir o Uruguai para se apoderar das fábricas de doce de leite. Ficou preso na aduana, porque levava cortes de carne gaúcha para o país vizinho.

E voltou a Porto Alegre sem saber que a carne uruguaia é melhor que a brasileira. Morreu esses dias, engasgado com uma colherada de Lapataia.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mini-conto III

La cuadra negra


Ela se encantou com a ideologia e movimento do Black Block. Um dia, participou de uma manifestação. Destruíram a fachada e os caixas eletrônicos do Itaú, porque o banco representa o que há de mais maléfico em termos de Capitalismo opressor de povos emergentes.

Meses depois, descobriu que estava grávida. O pai era do mesmo movimento. As famílias obrigaram os dois a casar, caso contrário não haveria facilidades pra eles. Precisavam de um lugar pra morar, coisas pro nenê vindouro...

O sogro da menina lhes concedeu um empréstimo. Ele era gerente adivinhe de qual banco?

Viveram felizes, mas cheios de culpa, para sempre.

Mini-conto II

Azul tipo o mar


Gremista modelo de ferocidade. Renunciou à Medicina no Brasil por não suportar ver a cor do sangue. 

Foi pra Inglaterra tentar tratar da Realeza.

Mini-conto I

Rojo hasta la muerte


Tão colorado, ele...

Um dia, num ato bobo e instintivo, olhou pro céu durante o dia. Estava nublado e cinza, por sorte. O ataque cardíaco não foi fulminante.