quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Oitenta



Com algum esforço, consegui tirar a quase dezena de caixas de papelão que sobrepunham a caixa que eu queria: a das fotos. É, poderiam, esses retratos, estar em um lugar melhor que algo que seja de papel. Mas mesmo assim é ali que estavam, debaixo de alguns quilos de documentos e outros badulaques, os registros da vida da minha família.

Comecei a abrir álbum por álbum, a maioria datado da década de 80. Sabe, tem aquela coloração já quase violeta, detalhes granulados e cheiro forte. Fotos pequenas, dos antigos rolinhos Kodak, com o mês e ano da revelação impressos no cantinho.

Era véspera de aniversário; eu estava fazendo 24 anos. Aquilo batia forte... puxa, daqui a um ano, terei um quarto de século de vida. E mais 5, terei trintão! Para quem tem mais que isso é normal rir da cara de quem é mais novo, arrotando experiência. Eu mesmo faço isso quando converso com criaturas mais novas, como se isso desse um valor inestimável a cada frase e entonação proferidas por gente mais vivida.

Quando vi os brinquedos com os quais posei nas minhas fotos, chorei. Tá, não foi um choro fiasquento e piegas. Com o quarto tendo seu ar impregnado com o odor de coisa guardada e música dos oitentistas indo direto nos meus ouvidos, fiz com que a lágrima que insistia em sair do olho direito não tivesse obstáculos. Era uma lágrima sincera, chorada por um sujeito que tem em sua infância um porto seguro a cada vez que se sente acuado num mundo louco como o de hoje.

O tempo passa rápido demais. Sinto a cada dia que a frase “nossa, como passou rápido esse ano...” dita com espanto ao final de 365 dias não é nada imprevisto. O tempo passa, mesmo, rápido demais! Não é exclusividade desse ou daquele ano. E o bolo de aniversário vai ficando pequeno para tanta vela.

Passei por péssimos meses pensando que estava ficando velho e inútil. Ou eu passaria toda minha vida pensando isso e me amargurando ou dava um jeito de engolir em seco e pensar no saudável “ah, dane-se!” que temos de usar diariamente. Quando eu já estava quase conseguindo me convencer que 25 anos seria só um rito de passagem, resolvi questionar uma pessoa com mais cancha que eu:

- Pai, tu acha que o tempo passa muito ligeiro?
- Hmmm... SIM!
- Putz... hã, então, tipo... desde que eu nasci, tu acho que foi muito rápido?
- Hmmm... SIM!
- Ah, meu Deus...

É isso aí! Se é pra ficar velho, que seja para ganhar essa manha de ser rasteiro nas respostas e lúcido para sanar as dúvidas e “tranqüilizar” os mais novos.