Com algum esforço, consegui tirar a quase dezena de caixas
de papelão que sobrepunham a caixa que eu queria: a das fotos. É, poderiam,
esses retratos, estar em um lugar melhor que algo que seja de papel. Mas mesmo
assim é ali que estavam, debaixo de alguns quilos de documentos e outros
badulaques, os registros da vida da minha família.
Comecei a abrir álbum por álbum, a maioria datado da década
de 80. Sabe, tem aquela coloração já quase violeta, detalhes granulados e
cheiro forte. Fotos pequenas, dos antigos rolinhos Kodak, com o mês e ano da
revelação impressos no cantinho.
Era véspera de aniversário; eu estava fazendo 24 anos.
Aquilo batia forte... puxa, daqui a um ano, terei um quarto de século de vida.
E mais 5, terei trintão! Para quem tem mais que isso é normal rir da cara de
quem é mais novo, arrotando experiência. Eu mesmo faço isso quando converso com
criaturas mais novas, como se isso desse um valor inestimável a cada frase e
entonação proferidas por gente mais vivida.
Quando vi os brinquedos com os quais posei nas minhas fotos,
chorei. Tá, não foi um choro fiasquento e piegas. Com o quarto tendo seu ar
impregnado com o odor de coisa guardada e música dos oitentistas indo direto
nos meus ouvidos, fiz com que a lágrima que insistia em sair do olho direito
não tivesse obstáculos. Era uma lágrima sincera, chorada por um sujeito que tem
em sua infância um porto seguro a cada vez que se sente acuado num mundo louco
como o de hoje.
O tempo passa rápido demais. Sinto a cada dia que a frase
“nossa, como passou rápido esse ano...” dita com espanto ao final de 365 dias
não é nada imprevisto. O tempo passa, mesmo, rápido demais! Não é exclusividade
desse ou daquele ano. E o bolo de aniversário vai ficando pequeno para tanta
vela.
Passei por péssimos meses pensando que estava ficando velho
e inútil. Ou eu passaria toda minha vida pensando isso e me amargurando ou dava
um jeito de engolir em seco e pensar no saudável “ah, dane-se!” que temos de
usar diariamente. Quando eu já estava quase conseguindo me convencer que 25
anos seria só um rito de passagem, resolvi questionar uma pessoa com mais
cancha que eu:
- Pai, tu acha que o tempo passa muito ligeiro?
- Hmmm... SIM!
- Putz... hã, então, tipo... desde que eu nasci, tu acho que
foi muito rápido?
- Hmmm... SIM!
- Ah, meu Deus...
É isso aí! Se é pra ficar velho, que seja para ganhar essa
manha de ser rasteiro nas respostas e lúcido para sanar as dúvidas e
“tranqüilizar” os mais novos.