sábado, 30 de abril de 2011

Lysergsäurediethylamid

- Bah, Marat... tu não atendeu ao telefone na segunda, né? Porra, cara... rateou! Ficamos bebendo vinho ali na escada da praça e tocando alta viola!
- Ah, é? Quem é que tava lá junto?
- Tava os piá tudo, meu... foi uma noite punk, cara, ahaha... os vizinhos até ligaram pra polícia. A gente sarneou um monte...
- Vinho barato, escada, punk e polícia?
- É, por aí...
- Cara, chega dessa porra! Eu vou te contar afinal o que foi uma noite realmente punk, sem o sentido cabaço da droga dessa alcunha! Fui pra Porto para ver minha garota. Sim, eu namoro uma guria tri gata e inteligente, ao contrário desses bonecos de jardim de camisetas preta GG com cheiro de suor e viradas em sebo nos cabelos que ficam zanzando na volta da gurizada.
- Mas...
- Fica gelo! Fui lá, enfiado no meu terno pseudo-militar britânico... saca, parecia que eu ia casar com a Kate, cara! Cheguei lá, transportamos o prato de vinil e caixas de som e uns discos doidos. Peguei uns Led mais modernos e o "Rubber Soul" e o "Revolver" dos Beatles. Nos jogamos nos colchões no chão, um ambiente hippie pra caralho e pegamos uma figurinha... um olho de Shiva, com uma carinha do véio Sidarta pedindo pra tomar uma tesoura nos cornos.
- Na segunda-feira isso, meu?
- Sim! Em vez de esperar o finde, resolvemos colocar um quarto de figurinha na boca e começar a ouvir uns Led. Essa porra demora pra dar efeito. A partir de um momento, resolvemos dar uma volta pela Cidade Baixa. As coisas começaram a mudar de tamanho. Voltamos pro apê e deliramos fodido nas coisas. Tiramos a roupa e vimos como é foder sob efeito lisérgico, bem melhor que o efeito do Pérgola. Apagamos a luz e viajamos, pelados e com frio, nas cores que se acenderam no quarto. Laranja, verde, cinza... a gente ficava pela metade colorido. E o "Revolver" rolando no aparelho, com todos os detalhes sonoros possíveis! A partir dali, tudo fez sentido! Ouvir "Tomorrow never knows" viajando de ácido me forçou a pedir pra guria pegar uma Zillertal na geladeira para darmos uma segunda volta. As escadas se mexiam: o piso do corredor ia pra frente, azulejos para trás e os degraus sumiam por debaixo disso tudo. Quando descemos, Porto Alegre vazia pra caralho. Só uns garis na rua. Seguimos só até a esquina com a Perimetral, mendigo dormindo pelas calçadas e comecei a perceber movimentações estranhas de dois sujeitos na esquina da nossa rua. Retardei o passo e deu uma bad trip. Neurótico, mudei o lado da rua, com minha mina pensando que eu queria fotografar edifícios antigos. Porra, cara, morei nessa cidade maldita e sei reconhecer uma situação de perigo. Fomos pelo meio da rua vazia, entramos na André da Rocha, viajamos na cor da sinaleira, olhei pra trás e vi dois caras enfezados em lados diferentes da rua. Apertei a mão da guria, achamos a chave em um segundo e entramos na hora certa no apartamento. Por pouco escapamos de perder dinheiro e ter uma bad terrível. Só lá dentro do apartamento é que tivemos noção exacta do que escapamos de sofrer. Os filhos da puta ainda continuaram a circular pelas ruas atrás de vítimas e nós ligamos pra polícia. Depois de coração a zilhão por conta de química e bads, minha menina me fez uns carinhos e quando vimos estávamos transando novamente. Uma boa resposta a galera que não tem isso e prefere assaltar no frio da noite, encarando trabalhadores-braçais com seus minguados ordenados de fim de mês.


- Caralho...

- Shhh, curte: no edifício à frente, um traveco e uma gorducha numa função pra sair pro serviço. Eram duas da manhã e resolvemos continuar fodendo que nem doidos! Ficamos nessa função altas horas. A polícia apareceu depois de duas horas, não viu mais ninguém, e finalmente gozamos sob efeito de doideira. O sono não veio, tentamos ficar quietos apenas e acordamos pela manhã. Ouvi mais "Rubber Soul". O Cachorro Grande se gabava de não faltar pó e Beatles em sua época de capital. Minha moça foi pra faculdade e eu parecia aqueles mods que dormiram na rua, amarrotados e com o cabelo sujo. Comi umas paradas, me deparei com meninas com roupas de academia e jeito que quem sairam de um ginásio em New York, comprei um jornal e vi como a vida se recicla depois de uma noite tão a Deus-dará. Dormi, ouvi mais discos e foi a vez de nossa vida ser tocada adiante.

- É, parece mais interessante do que tocar violão pra Ju e pra Raque...

- BEM mais, cara. Bem mais.