domingo, 22 de novembro de 2009

É Rock ou não é?

Reativando a pocilga. É isso mesmo! É como diriam aqueles malditos anúncios de queima de estoque ou reinauguração de lojinha de fundo de quintal: "Você pediu... a gente voltou!".

Já se passaram quase três anos desde a última postagem no antigo Rock Way. A noção do que é Rock também passou. Desde 2007, quando excursionei pelo lado B dos anos 60, conversei com muita gente de banda, produtores, ouvintes e pessoal que nunca sacou porra nenhuma. Sem perguntar nada, fui re-pescando o espírito roqueiro que restou e como ele estava sendo filtrado pela nova geração.

Acredito que depois de tantas cervejas tomadas, muitos Torpedos (bebida barata de Taquara), horas de violão em escadas úmidas, psicotrópicos diversos, bandas terríveis, bandas ótimas, gente desligada, gente vencida... tudo isso depois, acabei por definir arbitrária e barbaramente um resumo do que se considera, hoje, uma atitude roqueira e o que se considerava em priscas eras.


E tudo se resume no cardápio que tem disponível no Bardomorro, em Sapiranga-RS. Os belezas montaram um portifólio de fotos e ilustrações das bebidas e boias em geral oferecidas pelo transgressor estabelecimento. A coisa mais marcante que vi ali foi a ilustração dos salgadinhos industrializados. Em vez de um pacotão de Milhopã (que seria um negócio afudê também), surge uma crássica Kombi furgão da Elma Chips!

Será essa a Kombi símbolo do Rock?

Ou poderia ser essa?

Claro que lá no cardápio vem o preço (R$ 2,50). Tomado pela Polar, agradeci ao Cabelo, dono do bolicho, por ter tido a visão de reativar um ícone de uma geração. Enquanto me derramava em rasgações de seda típicas de frequentadores do AA, um cidadão ao meu lado, representante característico do roqueiro comum, chamou minha atenção:

- Isso aí? Roqueiro? Ah, para, meu... tri era o outro cardápio dos lôco...

- Opa! É? Mas o que poderia ser mais Rocker que isso, bicho?

- Cara... essa Kombi não tem nada de Rock! Que que tem a ver? Saca aqui o antigo...

E me aparece um cartazinho com um desenho da uma Volkswagen anos 60, modelo hippie. E aí travou-se longa discussão sobre a validade dos discursos e tal...

O fato é que podemos ir de um ponto a outro dentro da mesma ideia de ser ou não Rock. Uma Kombi anos 60, daquelas que permitem mil e uma pinturas psicodélicas, certamente se trata de uma referência visual certeira... mas clássica e óbvia demais. Já uma furgoneta da Elma Chips reativa uma lembrança divertida nossa (só não a do roqueirão que discutiu comigo). Quem raios nunca quis invadir aquela Kombi amarela que carregava os Fandangos, Stiksies, Cheetos e Zambitos dos nossos sonhos? Imagina morar dentro de um furgão desses e encher a pança de Baconzitos até a mãe do cara ficar louca?

Salgadinho, por si só, não é um ícone roqueiro. Mas a transgressão de um valor já sedimentado (nesse caso, a perpetuação da VW hippie) é, sim, uma atitude própria dos velhos tempos.

Basicamente, 'ser Rock' fica reservado à quebra de padrões ou à iconoclastia. Batalhar em cima dos mesmos sempre é bom e identifica de longe facilmente um torcedor dos Beatles, mas deve haver o espaço para rir das próprias definições. É como usar uma camiseta do Abba em uma festa Punk.

Foge de minha acanhada compreensão que os cabeludos vão querer ver sempre os mesmos sinais, mesmas caras e falar sobre as mesmíssimas coisas. Escapar disso e ter autoridade de brincar com os alicerces da estética e filosofia que circunda o estilo de Chuck Berry parece no mínimo salutar para que as limitações não estrangulem o que vem por aí ainda.

Agradecimentos à turma que pedia a volta do RWOL. Eu fui resistente desde janeiro de 2007. Nesse meio tempo, gastei umas horas com faculdade e com mulheres... mais com a primeira, infelizmente. Isso, definitivamente, NÃO é Rock.

Licks: coisas que lembrei há pouco, mas que deu preguiça de fazer texto só pra isso.

  • Muitos shows bons num raio de 100km da minha casa. Só impressiona a falta miserável de divulgação.
  • As bandas pequenas que fiquem espertas: para gravar um bom disco, existe a Lei Rouanet.
  • Mais vale uma música boa ou uma muvuca na Web?
  • Esqueçam os bares consagradamente grandinhos. Noite cara, long necks superfaturadas e ambiente que há horas são bem pesados. E não aceitam Banricompras. Sim, eu sou um bagaceiro chinelão.

4 comentários:

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  2. É, definir o que é Rock ou não nunc foi simples, nem mesmo na época do Chuck, que dirá agora, nessa complexa pós-modernidade. Na eal acho que nem eras... Definir é limitar, diria Nêgo da Porra. E, geralmente quem gasta tempo deinindo fronteiras precisas acaba tendo o coreto bagunçado por essa galera freak que insiste em pintar em festa punk usando camiseta do ABBA, ou em festa Hippie usando camiseta Punk, por aí vai...

    P.S.: Receio que rock mesmo, as trinta, seja reconhecer que o Rock errou, pegar um livro e se aquietar em plena sexta à noite... Ou não...

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  3. Bem lembrado Marat ,um de nossos jornalistas mais perturbadores da paz ,o saudoso Lester Bangs usava camiseta do ABBA enquanto ele bebia do sangue de Iggy pop num aureo show dos Stooges,aliás nem só ele usa camiseta do ABBA,e viva Mamma mia!!

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  4. Agora ve se toma vergonha na cara e posta algo lá no meu blog Monarca da coxilhas.

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