sábado, 6 de fevereiro de 2010

A manha da folga no volante


Dia desses eu tava conversando com um o Igue, ex-The Mostards, sobre carros e coisas das quais os Beach Boys tanto falavam antes de 66. Comentamos que há carros que são fáceis demais de dirigir e que poucos têm algo de complicado para atravancar o caminho do motora.

Até que lembrei da minha Kombi:
- Cara, é um Volkswagen, basicamente... uma barbada de dirigir, vai dizer?! Não tem que ter "manha" pra pilotar essa coisa...
- Pode crer...
- É, a não ser pela folga do volante. Quem sacar qualé quié e souber disso já antes de assumir o posto do condutor, já anda nela sem mistério.

A folga do volante. Certamente, uma patricinha dirigiria tranquilamente um Clio ou Ka da vida, mas teria tremenda dificuldade em manter uma Kombi em linha reta na estrada. Leve-se em conta que a folga da direção (que faz com que ela gire em falso alguns centímetros sem que o curso do carro mude) é uma instituição do veículo. É um handicap, um nível de dificuldade a ser vencido e, talvez, sem o qual dirigir um carrão desses não tenha a mesma graça.

É assim com determinadas bandas. Não se pode entregar um disco do Sonic Youth para uma menina-média do interior (dessas garotas ecléticas, sem gosto musical algum) esperando que a incauta saia cantarolando ipsis litteris o som dos malandros. Existe um sério handicap ali. A guria teria que ter uma tonelada de informações ou bagagem musical para sacar do que se trata.

Há bandas e discos, portanto, que devem ser 'entendidos' antes de serem apreciados. Pet Sounds tem um nível de dificuldade; antes dele não havia. O velho Sgt. Pepper's tem; o ié-ié-ié não. The Cure não tem, mas Joy Division, sim. Legião Urbana desce sem problemas... mas Vulgue Tostoi é terrível.

Desconfie seriamente quando algum pós-adolescente chega em você com aquela tradicional empáfia e trejeitos oculares de quem sabe muito mais que você. Pode ser mesmo... mas ele tentará empurrar goela abaixo alguma Kombi com três voltas de folga no volante, fazendo você ficar tenso e preocupado, tirando o prazer de dirigir. Handicap, sim, mas sem exageros, não é?
Em tempo: não é só a direção que tem manha. O câmbio dá umas enganadas também.

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