sexta-feira, 8 de julho de 2011

Torrada

Tô lendo tardiamente o tal de "Misto-quente". Já tinha pego o livro em mãos e lido as primeiras páginas na faculdade, livremente tomado de minha colega, a Adriana. Como tinha que estudar e ela queria terminar de ler, adiei em 9 anos minha degustação do velho sujo.


O livro é bom e tem uma linguagem ácida que não toca terror para os iniciados em Salinger ou Kerouac. Mas, por isso mesmo, por parecer com esses caras, Bukowski é bom pra caralho. Só que destrinchar um livro assim, sem ter lido nem mesmo "O capitão saiu pra almoçar..." (seu 'diário de bordo' antes de bater as botas), me parece usar o diploma que tenho como arma contra minha cabeça.


Eu quero falar é da porra do título. Misto-quente. Tu já comeu misto-quente? Ah, sim, isso é de comer. Jesus Cristo, ninguém num raio de 500km de onde moro deve ter pedido um misto-quente num boteco.



- Ô, Vanderlei, belezêra?

- Firme, Marat. Cervejinha?

- Não, cara... tô com fome. Pedir um misto-quente...
- Quê???

Aqui essa parada se chama (e não "chama") TORRADA! Deveria haver uma gauchalização de certos termos. Simplesmente a porra do livro daquele velho cretino tem um nome que não faz nenhum sentido pro pessoal que, segundo o Gessinger, vê o Brasil de cabeça pra baixo. Nós, no caso.

É como o caso infeliz da sandália. O que chamam de "sandália" nas propagandas recentes é classicamente considerado um "chinelo". Não me venham com essa porra de empresa de marketing que acha a palavra 'chinelo' algo chinelo. Dizer que Havaianas com prego na tira não serve só para passar massa corrida em parede e, sim, como acessório casual de burgueses metidos é pernicioso. Sandália é um tipo de calçado; chinelo é outro.

Embora não acredite que "bolo inglês" tenha virado "cupcake" (todo enfeitado por chantilly e confeitos) por ação de agências de publicidade, imagino também que acreditem, em algum lugar do país, que um "suspiro" branquinho só se chame ""merengue" em espanhol. Nein! Na minha terrinha nojenta, é merengue e deu pro zôvo! E as embalagens que descem do centro do Brasil transformam "negrinhos" e "branquinhos" em "brigadeiros" e "beijinhos". Ganas de mastigar essas drogas, engolir, vomitar, fazer uma omelete freak e mandar por sedex pro Sistema.

E também dá vontade é de pegar uns brigadeiros, beijinhos, suspiros, mistos-quentes e sandálias marqueteiras e zoar com a bunda, fodendo as esperanças de manter suas virgindades anais, de candidatos a publicitários regionalistas que não se prestam nem a sacar qualé a de outras zonas desse continente. Até lá, termino o "Torrada", de Bukowski, e releio outro livro com título sem sentido: "O apanhador no campo de centeio".

- Ei, cara... vamos jogar beisebol no campo de centeio aqui ao lado?
- Quê???
- Tá, Marat: no pasto...

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