sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nas ondas da rádio-baile

- Mmmm, pensei que tu não ia mais vir...
- Capaz... e eu ia deixar de sair contigo, decerto?!

Era a segunda ou terceira vez que eu ia sair com a Juce. Era uma menina que não tinha droga nenhuma, nem uma porcaria a ver comigo. Era, no máximo, simpaticíssima e prestativa. E tinha um razoável charme. Meu parça, o Costela, disse que era incrível que nós encontrássemos charme nessas mulheres, pois só assim justificaríamos o bagrêdo que pegávamos. No caso da Juce, consegui meus intentos sórdidos na 1ª vez; agora, queria mais uma.

Estacionei meu carro na frente da casa dela, uma dessas construções feitas a esmo, um sobrado sem a menor graça, virado em lajota lisa no chão e paredes cinzas de cimento mal misturado. Achava um horror aquilo, mas era a casa dela, enfim... devia se sentir bem dentro de seu quarto com estantes viradas em caixas de sapato. Foi ali onde rolou uma sessão safadíssima no último encontro.

- Fica aqui na sala, enquanto eu me arrumo no banheiro.
- Chuchu beleza...
- Quer ouvir uma música? Vou ligar o rádio.

Temi. Vai saber que tipo de música gostava a menina... nem deu tempo de eu pensar. Ele foi direto ao dial e colocou na mais popular das rádios da região. Desceu em meus ouvidos uma torrente de melodias do fino do baile de periferia alemã. Vai saber quanto tempo a Juce iria se demorar naquela afeitação toda. Que agonia, meu Deus! Passearam na minha frente toda a sorte de trabalhadores-braçais e seus tios e tias e primos e casamentos fracassados, dançando na pista ao som de trompetes mexicanizados e animação vocal para cães. Uma merda! O que o cidadão não faz só para sair com alguma incauta qualquer...?! Um dia eu tomo tento. Talvez não.

- Tá prontinha, já? Vamos lá!

Coloquei-a no carro e vislumbrei a noite de prazeres que teria. Ela estava bonita para seus padrões minguados. Usava roupas que o dinheiro permitia comprar... e isso era pouco. Uma vez eu estive num puteiro cretino do quinto dos infernos. Fomos levar um amigo nosso de uns 20 anos que tinha uma timidez de ostra e um hálito miserável. Levamos o pobre para conhecer os prazeres da carne nesse antro de mulheres automatizadas e judiadas.

Depois de muito convencer as tias de que o rapaz merecia coisa melhor, por ser sua 1ª vez, eis que surge Graziane, algo assim, a última cartada da cabana para que os rapazes dali não saíssem de pinto abanando. A moça era bonita, mas aquele bonita meio acaboclado, sabe? Morena de trabalho sob o Sol... parecia que a desgraçada trabalhava com a fuça recebendo raios solares o dia todo, sem creme nem nada. Suas roupas eram de puta pobre. Notoriamente, Graziane meteu seu vestido vermelho e seus tamancos no intuito de ficar bonitinha... até ficou, mas não por conta de seu visual deprimente.

Juce estava nesse espectro, tadinha. Tão boa pessoa, ela. No caminho para minha casa, enfadado daquele baile todo, me deu a louca e achei legal botar os cachorros nela. Sei lá porque cargas d’água eu desatei a discutir seu gosto musical:

- Olha, Juce, nós vamos chegar em casa e vamos ouvir algo que preste e tudo o mais...
- Tu tá dizendo que meus bailes não prestam? Eu gooosto...
- Não tô dizendo isso. Mas você já é grandinha e pode ouvir certas coisas... sabe? Tipo, tu passou da idade de ouvir bailão há horas... isso aí é coisa pra gente que tem menos de 15 anos e...
- Ai, eu não falo dos teus gostos, bla, bla, bla...

Climão bacana no carro. Só eu mesmo. Um dia tomo tento na vida. Ou não.

Chegamos (“cheguêmo”, como diriam esses infelizes operários) em minha casa e Juce desceu do carro. Corri para fechar o portão e só aí percebi a cara beiçuda da garota encostada no meu carro.

- Ei, Juce... qualé?
- Ah, tu só fica me xingando, dizendo que eu só ouço porcaria... me leva pra casa!
- Ah, que isso, deixa disso, vai...

Aí, veio uma profusão de um papinho louco de mole para convencer a mocinha de que eu não falei nada por mal. Funcionou: em 10min, estávamos sem as malditas roupas.

Quanto a meu amigo? Bem, eu marchei com 27 reais dos impensáveis 40 cobrados por Graziane, por meia hora de prazer. Quando fomos buscar o cidadão, carregamos o vitorioso no colo e fizemos festinha nele.

- Curtiu, então, seu safado cretino?
- Fffffoi bom...
- Mas ahh, guri veio!
- Ainda quero voltar lá...
- Óóóó... pegou gosto pela coisa? Eu sabia, ahhaha... que massa, meu!
- É... é para fazer direitinho, daí...
- Que, meu? Mas... mas...

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