terça-feira, 19 de junho de 2012

Invento sonoro

Queria inventar um antídoto contra timidez.
Não sei atacar, só espero minha vez.

Queria recriar meu velho modo de vida
não sou um dos caras mais visados.


Queria saber mais das coisas do coração
pra virar o disco e ensinar a mim mesmo.
Queria aprender a mais santa oração

e achar sentido em vagar por aí a esmo.

É prudente ter meus remédios lacrados:

vai que um dia eu escolha uma segunda opção...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Podre de rico

Passo por um mendigo embaixo da ponte
mendigo triste e com dor em sua fronte.
Deus lhe deu a chance errada e a incerteza...

Nessa hora me envergonho do que sou
e vou rezar como um padre na abadia.

Mas o mendigo tem a maior riqueza
que sua gente jamais pensou:
a carteira que ele me roubou outro dia.

domingo, 10 de junho de 2012

Faixa escondida

"Faça alguém feliz:
doe um pouco de si mesmo!"
dizia o incauto cartaz.
Mas que alma condiz
comigo, que ando a esmo...
comigo, que ando pra trás?

sábado, 9 de junho de 2012

Canção kitsch

A Tristeza e a Feiúra 
são a censura divina.
A Beleza e a Luxúria
são a consciência do diabo.

Permuta

É o quarto caso de vida jogada fora
desde que apareci com esta pergunta:
"E se você fosse eu por apenas uma hora?"

Soneto tardio de amor

Quem escreve em primeira pessoa
já pensa em agradar a quem lê.
Um certo respeito por quem se afeiçoa
é mais um soneto fadado a morrer.

Ela pede versões mais bonitas do amor, 
ele fala outra língua que chama a atenção.
Ela seca seus olhos provando o sabor
ele que que, no fundo, mais valha a intenção.

Se bem que ele quis expressar sua dor...
o relógio a deixa zonza e perdida,
o tempo lhes mostra a face do horror.

Mas olhe como brinca a sorte:
ela crê, sozinha, na vida,
ele vê, sabido, sua morte.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Anis

Quando falo de morte
é porque sinto medo
até do friozinho de outono
e da garoa tênue que escorre.

Você me fala da sorte
que não encaixa no enredo
da minha vida em mono.


É o medo da vida, que morre.


 

Aurora boreal

O futuro toma precioso tempo
enquanto o presente some em pedaços.

Em vez de perder minutos
escrevendo romântico

(palavras não são naturais)
prefiro poucos segundos
beijando-te em cântico
(beijos de escrever em murais...)

Aritmética


Estudo para prever o final;
testar equações, dividir e somar,
estar preparado para a prova real,
ver tudo com uma clareza mais definida...
mas o que não consigo mesmo é achar
a graça de ter certeza na vida.

Erro crasso na harmonia da música mais linda que inventei

O mundo moderno é uma figura!
Sensível à moda, complacente com odores.

Mas agradeça por ter nascido gauche

nesta vida periclitante:
a asa só foi inventada
depois que inventaram o desodorante.



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Impulso

- Quero ser triste.
- Por quê?

- Pra evitar ficar alegre!
- Por quê?

Aperto o nó e penduro a corda no galho mais frouxo da vida.

Todas as flores

Ontem à tarde, tive uma ideia revolucionária que iria mudar o mundo. Resolvi anotar para não esquecer no período pós-trago. É, não esqueci mesmo, mas não sei como interpretar "ame o próximo"...


Arquirrival de um inimigo imaginário

Aboli o espelho de minha vida! Não suporto a ideia de parecer um velho com manias irritantes, um diácono medindo seus modos, um marginal que ensaia seu "bom dia"...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Borracha no tempo?

Quintana não gostava, mas não resisto a olhar pra trás e ver meu próprio feito. Desejo doido de se repetir, influenciar eu mesmo, ter minha própria escola maratiana. Só não tô conseguindo agora, porque não acho minha própria característica principal... ou por custar a acreditar que essa seja o 'esquecimento'.



Épico moderno

Escrevo com acentos mudados
com hífens a menos, ditongos a mais,
letras e fonemas trocados
algum épico de um novo herói.

Traço um rumo correto, infindo...
são riscos etéreos que o vento destrói.
Junto armas, boto o pijama
pronto para as guerras finais.

Tudo isso para te falar, mentindo, 
do medo do monstro embaixo da cama...





terça-feira, 5 de junho de 2012

A Moral e os Bons Costumes

A maior felicidade que posso visar
é a rotina diária de ir trabalhar.
Repito as coisas sem ter um porquê.
Mergulho em minha filosofia de pequeno porte:
é inútil a tentativa de decifrar (pra quê?)
a Vida, a Certeza e a Morte.

Medo do desconhecido

Falar d'alma sem acreditar nela
é tão esquisito quanto acender uma vela
em prece à madeira oca, o Santo,
para que ele atenda de uma vez ao pranto.

A parlenda barroca adocica um tanto
o mingau de minha vó, posto em tigela.
Pergunto ao pó, e ele me responde depressa:
"A prece e o pranto funcionam, por enquanto..."


Sustentabilidade

- ... e a lição de hoje foi: vamos trocar todas as sacolas de plástico de mercado por lindas e modernas sacolas de pano recicláveis e sustentáveis. Os países desenvolvidos já adotam políticas contra o uso dessas sacolas e...
- Ei, tá, saquei. Mas... e o lixo de casa? Jogo ele onde?
- Ora, num saco de lixo...
- ... de plástico?

Diante dos interlocutores, como fruto da falta de resposta, deu-se um evento singular: rolou mó vórtice temporal, um paradoxo no espaço-tempo e um buraco negro. Juntei essa bosta com uma sacolinha do Rissul, amarrei e toquei no lixo.

Foi recolhido e acho que vai ser reciclado no Moquém. Fim.