terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Calorias, gorduras, lípidos e um pouco de milho.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Segredos do Marat 1
domingo, 12 de dezembro de 2010
Minoria
Tá, o vespeiro tá cheio e mexer nele pode trazer problemas. Vou lá passar um fator 15 nos braços, pegar meu carro, minha garota e meu disco do AC/DC e vou encher a cara de cerveja uruguaia por aí.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Conversinha
- Tá, tá... saquei. Mas bem que tu podia falar isso com voz de homem, né?...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Na alegria e na tristeza
E loucos. Esquizofrênicos estão sempre num sofrimento cuiudo nessas cidades grandes. Sei, sei, uma capital, por conta da concentração desordenada de seres humanos, é lugar certo para encontrar uma quantidade abastada de pinéis. E na Tristeza não era diferente.
Aliás, o personagem que apresento, Carlinhos, era diferente. Era bem arrumado, com camisa polo azul, razoavelmente limpo (quem seria 'totalmente' limpo nessa vida?) e falava com calma. Tinha até umas ideias obtusas sobre como limpar os arroios de Porto, para que seu querido Guaíba se tornasse o outrora estuário espelhado que já banhou as plagas gaudérias do leste.
- Qual é teu plano com essa parada?

terça-feira, 5 de outubro de 2010
Só um detalhezinho
domingo, 18 de julho de 2010
LA TRIP: o trajeto

sábado, 17 de julho de 2010
LA TRIP: 2ª parte
sábado, 10 de julho de 2010
LA TRIP: um pequeno apanhado de ideias
domingo, 27 de junho de 2010
Butiás de bolso
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A televisão me deixou burro

Insistência
- Total... mas qualé? Vai querer jogar pelo outro time agora, seu merda?
- Não, cara... só falei que são perigosas!
- E?
- Gosto do perigo, meu. Isso é que é foda... hora dessas ainda tomo no zóio.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
O menestrel dos dissabores urbanos
- Tá, mas vamo comer pela rua mesmo, né? Eu vou no pescoço daquele cachorro-quente da República e já eras!
- Eeeei, ô, meu! Tu come esses troço na rua e depois morre, hahahah!
- Sugere o quê?
- Vamo comê no (nome censurado)... bem melhor.
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Voto vencido que geralmente sou, acompanhei meus amigos cretinos até o lugar citado, disposto a doar meu ordenado ao capitalismo selvagem da capital de todos os gaúchos. Pedi um infalível xis-frango (desses que, volta e meia, me presenteiam com um ossinho perdido no meio das carnes) e cuidei o atendimento. Foi ruim. Sinal de comida boa.
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Mas como toda regra tem lá sua maldita e deslocada exceção, veio uma droga de um xis-prato, tipo de restaurante, a coisa mais sem graça, boçal, bundona e insípida que há. Saca que eu prefiro xis de pegar com as mãos? Prefiro ter aquele domínio da presa, como quem gruda os dedos no braço da primeira china que aparece se arreganhando pro vivente. É uma espécie de nível de dificuldade que dá charme ao processo como um todo. Tem xis na Cidade Baixa pré-programado para deixar impossível o cara comer a merda do alimento rapidamente. Só que o negócio esfria uma hora; não é como os cachorros-quentes famosos de Porto, que, quentes ou frios, continuarão a ter formato de barca cheia navegando pelo Létis.
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Essa parada de nível de dificuldade, outrora retratado com autoridade incomum por mim mesmo, aqui no RWOL, tem lá todo um cuidado para que não extrapolemos os limites do minimamente aceitável. Tipo, tá, o malandro vai numa churrascaria pra matar a fome e sentir o gostinho defumado de carne de boi e tudo o mais... mas não é um churrasco! O tri mesmo é juntar a bagaceirada, tomar ceva ou capirinha (Fúlvio faz umas de derrubar a galera), espetar os cortes bovinos, salgar, fazer fogo, abanar a porra dos carvões, meter a droga toda pra assar e cortar, enfim... tem ritual. Quem prefere um CD do The Who se o Nino Lee tem um triplo dos caras, um branco, outro azul, outro vermelho, justamente para gastarmos minutos olhando pros discos e mirando a agulha nos sulcos? Quem compraria chimarrão em caixinha, se a graça é justamente montar a cuia, a erva... falando em erva, quem compraria maconha pronta? Bom, não é o caso agora.
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Todos numa faceirice cuiuda e eu já de beiço. Frescura minha, eu sei, afinal o que não mata, engorda... e certamente isso valia para uma alfacezinha minúscula que se mexia pelo prato do Mará. Espantado, conferi de perto e vi que era uma larvinha verde, simpática e fofa, que fugia do meio das verduras de meu xis-prato. Tadinha: se viu perdida e zelou por sua vida.
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Como eu, em princípio, zelava pela minha também, tratei de sentir nojo. E ri. Os camaradinhas já ficaram receosos para com seus xises. Provavelmente alguma amiga de Pituxa, a larva quente, deveria a essas alturas estar sofrendo com meu tubo digestório. Chamei o garção:
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- Ô, meu guerreiro, seguinte: bah, tem uma alface ambulante no prato do beleza aqui.
- Opa... quer que façamos outro xis?
- Nanana, já eras... vou meter esse mesmo. Foda-se!
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Tem coisas famosas que realmente te levam a ser convencido de que tais coisas são boas. Fui a um show do Rappa num evento de uma rádio local, aaaaanos atrás. Na real, fui ver Capital Inicial. A banda de Falcão veio antes. Pensei: "Porra, esses caras são tri falados, ganham prêmios cretinos e o escambau, e só conheço 'Vapor barato', 'É dia de feira' e 'Pescador de ilusões'...". Fui para ficar chapado com o som deles. Queria que me mostrassem o porquê do auê todo.
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Lógico que tomei no cu tranquilo. Era para ser um show de Rock, mas vi um de rap, pois Falcão não canta ao vivo; ele fala as músicas. Ouvia o baixo alto (!) e embolado, sem ser culpa da banda. Sentei nas britas, cultivei uma bermuda suja de mijo, cerveja e poeira. E achei tudo uma merda.
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Fim da comelança. Fomos pagar. Galerinha desembolsando tartarugas-marinhas e eu na espreita.
- Ô, rapaziada, quem é o cara do xis que deu problema?
- Opa, sou eu, campeão!
- Tá, seguinte: não precisa pagar. Fica por conta da casa.
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Nessas horas é que penso que os bichinhos de Deus, que tanto afofam o húmus necessário para as arfácia crescerem, são bem-vindos em nossa alimentação e ajudam no capitalismo selvagem. Com o dinheiro poupado, comprei uma jaqueta jeans suburbanolondrina num brechó monmartriano da Lima e Silva.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Desistir? Nunca!
O papo ia bem. Regado a bom vinho, em um dos bares da República, rua razoavelmente metida a boêmia na capital.
— Sim, eu já vi essas trilogias! Achei legal demais. Mas adorei também “O fabuloso destino...
— ... de Amélie Poulain”, sei qual é. Hehehe... vi com uma ex-namorada minha. Ela pirou que queria ser a Amélie e andar de lambreta por aí. Mas eu tenho uma moto sem freios e ia ficar deprimente.
— Ai, que viagem, hahah! E música? Gosta de Teatro Mágico?
— Mmmm... tu gosta de Legião Urbana? Smiths?
— Sim, sim, mas e de coisas novas?
— Sei lá, sabe? Sou meio resistente por natureza, mas bandas como Valentinos, Pública, Fuzzcas... acho que eu posso citar essas. Uma hora vamos num show deles por aqui.
— Eu pago o vinho!
— Eu pago o estacionamento...
— Nem parece que a gente já tá conversando há horas, né?
— É, é... mmm, hmmhmhmh...
— Marat... que que tu tá fazendo?
— Hã? Olha... na minha terra, a gente chamava isso de “estou tentando te beijar”.
— Ai, na boa?! Não parece meio cedo? Sério, Marat... não me sinto bem ficando com um amigo meu.
— Tu não fica de jeito nenhum com amigo teu, é?
— Não fica brabo. Eu sou assim.
— Então tu pega a droga do Teatro Mágico e enfia no teu cu, xaropona do caralho! Sua bundona de merda! Vai cagar no mato com Amélie Poulain e sei lá mais quem, porque essa porra é chata pra caralho! Tua vida deve ser uma merda de um simulacro da realidade, no qual tu deve se achar a enviada da porra da sabedoria e castidade, mas não suporta um fim-de-semana sem dar pro primeiro sujeira que aparecer na frente!!!
— Credo, guri idiota! Tu tá louco? Que que eu te fiz, meu Deus? Olha que ridículo! E eu pensando que tu era meu amigo, hein? Nossa...
— Bem, agora que não sou mais seu amigo, vamos continuar a partir da cena do beijo?
— Credo! Nojo!
Ainda entre o riso e a sensação de ser um eterno loser, ajeitei as cadeiras, paguei o vinho, o estacionamento, o pato e mico.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Confissões de meia-idade adulta
... e tô ouvindo uns lances mais da antiga e tal...
Dóc diz:
Pode crer... mas tipo o quê? Tropicália?
Jr. diz:
É, isso aí! Uns negócios assim...
Marat diz:
Bah, pra ti que curte percussão, deve ser massa pra caralho!
Jr. diz:
É... tem umas coisas bem foda ali...
Costela diz:
(pita um crivo...)
Dóc diz:
Deve ter uns lances massa nesse pessoal dessa época, tipo Novos Baianos, Mutantes, Tom Zé...
Marat diz:
Cara... tenho que falar uma coisa: não gosto de Tom Zé.
(momento de incredulidade automática)
Marat diz:
Sério, gurizada... bah, não tenho saco. Aliás, acho que, com 29 na cara, depois de ter conhecido o mundo que conheci e conversado com todo mundo que conversei, já posso dizer com autoridade: não acho a mais vaga graça em Tom Zé... nada contra, mas... porra!

Dóc diz:
Eu tenho umas coisas do Tom Zé em casa, mas não ouvi muito... mas tem uns troços tri.
Jr. diz:
Ah, cara, eu curto Tom Zé...
Marat diz:
É? Mas tu ouve em casa isso? Ou só curte por ter informação musical?
Jr. diz:
... meu...
Costela diz:
Ô, Jr., diz DUAS músicas do Tom Zé.
Marat diz:
... e não pode ser "Batemacumba" e "Namorinho de portão"!
Jr. diz:
É... tem umas ali...
Saimos, por via das dúvidas, de fininho daquele churrasco. Não seria nada bom para nossos ouvidos ou reputação que as pessoas soubessem que havia roqueiros que não ouviam Tom Zé por perto.
Jr. diz:
Tá, mas e Secos & Molhados, Mutantes, Novos Baianos...?
Marat diz:
Do caralho! E Gal Costa também.
Legal, legal...
sexta-feira, 28 de maio de 2010
O negócio é não ser um bundão cult
Se bem lembro, eram 6 caras e 4 meninas. Costela já estava com sua meio-namorada; essa não contava. Sobraram 3 moças e 5 cidadãos famintos. Quando as luzes da sala se apagaram, após um verdade-ou-consequência do inferno, uma delas, gêmea gata de outra, já tinha caído nas ricas graças do mais chatito do grupo, o cão matreiro Técnico. Logo, a outra se bandeou com Rodrigo para o andar de baixo da casa.
Ficaram eu, Fúlvio, o dono do Fusca que nos carreteou até a casa e uma menina um tanto quanto lado B, a Bebel. Na cabeça e no físico.
- Tá, Marat, vai pegar ali ou não, porra?
- Sossega... tá na mão pra mim.
- Então vai logo, que senão eu vou!
Fúlvio não era de perder tempo. As luzes apagadas, os guris zanzando nervosos em volta como moscas na merda e eu sentado no braço do sofá, como um palerma esperando a droga da timidez me deixar fazer em paz as coisas que eu curto nessa porra de vida. E Bebel ali, paradita, pensando decerto "caceta, mas só tem cria nessa casa...".
Eu havia conversado com ela uns dias antes num posto de gasolina. Enquanto as gêmeas faziam o escarcéu clássico de meninas com hormônios em polvorosa, Bebel era mais comedida e engatou uma "troca de ideia" de quem, de fato, quer conhecer o oponente.
É nessas conversas em que acabamos sempre caindo no gosto musical da pessoa. E para mim isso é quesito eliminatório. Mas eu tenho a sorte grande desse mundo e sempre papeio com mulheres oriundas de ambientes esnobes. Arrota-se fino caviar quando come-se melequentas sementes de mamão.O legal não é dizer que gostam de Beach Boys... não, eles são muito bregas! O tri mesmo é catar lá do universo paralelo alguma banda desconhecida e adorá-la justamente por ser desconhecida, pouco importando se é boa ou não. Tem é que ser diferente.
Muito chato isso. Numa conversa, sempre estaremos com a impressão de estar aprendendo (o que é bom) com a pessoa errada e mais chata do pedaço (o que é enfadonho). Sim, acontece com meninas isso, principalmente em se tratando de fêmeas da capital.
- Eu curto muito Suburban Kids With Biblical Names... nossa, muito massa! E tu, Marat?
- Olha, tchê... tô ouvindo ultimamente Eric Carmen...
- Ui, credo!
Creio piamente na teoria que um ser humano chega a um nível tal de cultismo que ignora as coisas mais farofas que há no mercado fonográfico mundial. Ou arranjam alguém que sempre foi um bosta e resolvem erguê-lo à condição de mestre ou poeta mal compreendido. Bundões! É gente que não tempera a porcaria da massa Miojo com o tempero artificial clássico, por achar esse negócio padrão demais.
No caso específico de Bebel foi até tranquilo. Batemos os gostos de cara e ela estava "pré-trovada" para a noite da casa do Costela. Baseado nesse preceito besta, lá fui eu testar minha terrível timidez, já citada. Os guris pressionando, eu querendo a Bebel e ela me querendo. A silhueta de seu crânio de cabelos desarrumados, mas presos, estava sob efeito da luz da rua, num efeito cafona e convidativo. Eis que o brilhante poeta aqui teve a louvável ideia de se expor da maneira mais estudada, arrebatadora e que provava todo um estudo até então. Dei no meio mesmo:
- E aí... Bel... que tal a gente ir prum cantinho?
- É, legal... onde?
- Ali, naquele sofá!
Gênio.
Funcionou, óbvio. Ficamos nos enrolando durante HORAS e foi tudo bem...
... ou não. Saldo da noite: Rodrigo viu sua gêmea mijando no pátio da casa, Técnico disse que comeu umas 3 vezes a outra (eu não vi, deixo bem claro), Costela farunfou sua menina e eu sai com os dedos com o cheiro agridoce da intimidade de Bebel. Tomamos um café na casa do beleza e aí que eu me liguei o odor de minhas mãos parecia... látex. Porra (literalmente, talvez)!
Oh, sim, ia esquecendo: as gêmeas levaram uns discos do Costela emprestados para sempre e achei Bebel, anos depois, vestida de tal maneira masculina que fiquei preocupado com minha reputação ao titubear entre um beijo na bochecha ou um aperto de mãos.
sábado, 22 de maio de 2010
Bebeco Garcia não morreu. É sério!
Claro que é pieguice absoluta falar de alguém já morto e enaltecer sua vida. Então, como achar detalhes da vida do homem é barbada, bastando procurar no Google, digo que quase chorei ao ouvir "Tô de saco cheio". Não, talvez não tenha sido por isso.
Talvez seja porque eu, na segunda música do show que fizemos juntos, Desvio Padrão e Bebeco, eu tenha olhado para o lado e pensado: "Puta merda, esse véio fez as músicas que eu tocava no violão até poucos 10 anos atrás...".
Morre um ídolo, talvez não tão importante pra mim quanto Cazuza, Renato Russo, McCartney ou Brian Wilson. E nem conheci Chaminé, nem conheço o Fughetti Luz... mas fiquei triste.
Será que, de verdade, as cordas da Flying V de Bebeco pararam de tocar?
Marat diz:
Cara, eu tava pensando nesse negócio do bebeco
meu, te pergunto:
eu quase chorei agora há pouco, ouvindo TÔ DE SACO CHEIO.
É normal isso?
Fábio Fischer diz:
cara, quando eu fiquei sabendo foi tipo "ah, tranquilo", saca?
a daiane morais me contou por msn logo que eu acordei
na hora tranquilo
mas, de noite depois quando eu tava voltando da aula e tal me deu um aperto cara
daí cheguei em casa e ouvi ipanema e tava rodando um som dele atrás do outro
daí eu senti uma dorzinha.
ídolo do cara, e nós tivemos a chance de tocar com o loco duas vezes...
uma lembrança massa que eu tenho dele foi da passagem de som no centro de cultura
os caras mandando baixar o volume e ele puto da cara: "rock tem que tem pressão, tem que ter pressão" ahahah
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Provas de amor

segunda-feira, 3 de maio de 2010
É, amigo...
- E aí, porra?! Que que tu trouxe... bah, torpedo de novo, meu?!
- Tomá no teu cu, Costela! Nem pra casar uns R$2,50 tu te presta...
- Tá tri. Mete essa merda na geladeira. Não vamo tomá agora!
- Tem ceva aí?
- Ter, tem, mas é só pra diretoria, hahahah... (abre uma ceva quase na cara do Marat).
- Putz... tu é um merda.
- Fica frio aí, que eu vou... banhar-me.
- Quê, meu?! Tu ainda não tomou banho? Te liguei faz uma hora, porra!
- Shhhhhhh... cale a bôqui! Só não fode com meu Orkut, seu porra!
- HAhahaha... certo que vai rolar um 'bi-curious' no teu perfil e é já!
- Talomierda... (Costela fecha o Orkut e deixa só o Winamp aberto).
- Cara, pelamordideus... corre! O vagabundo sempre se atrasa por tua causa.
- Shhhhhhhh...
(duas horas depois)
- Tá, fica frio que eu vou comer um negócio... comi bosta nenhuma durante o dia todo... ô, Marat, tu tá bebendo cerveja da diretoria???
- Perdeu, preibói!
- Tá tri... vamo bora e vamo secá esse tórps no caminho.
- Já era!
- Tomá no cu...
Marat pensa: "Porra, esse Costela é mesmo um cara bróder. Meu parceiraço!"
Costela pensa: "Tomá no cu..."
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Acho que fizeram um gol...
Bela maneira de encerrar uma mijada. Minha mãe chamando para eu ver um gol. Lógico, era do Barcelona! Até que demorou muito para os desgraçados comandados por Ronaldinho encaçaparem uma. Se tomássemos um só seria lucro.
Mas... como assim, mãe, “fizeram”? Será que ela não se tocou, desde o início da transmissão na TV, que o time de branco era o Inter e o grená, o Barcelona? Enquanto eu sacudia o pinto a respingar pelo vaso e arredores, ficava pensando em qual, diabos, dos times tinha balançado a rede. Mamãe bem que podia ser mais restrita e dizer que foi a equipe de branco ou a grená a ter feito o crime. Certo que era a grená. Era a que estava comemorando, não?
- Não sei... ó, vem cá...
Coisa de gente que não tem mais 20 anos. Não soube distinguir quem comemorava; só faltava essa! Mas gentes velhas têm seu valor em minha vida. Juntando a cueca azul-marinho, que tinha dado sorte na Libertadores, saí do banheiro às pressas, pensando em tudo o que eu passei até chegar aquele momento.
Aos 6 anos, eu já era Colorado e tudo o mais. Crianças gremistas e torcedores do Inter se davam bem. Jogavam bola juntos, andavam de bicicleta e, inocentes, cada uma sabia cantar o hino do clube rival. Era engraçado... um dia cheguei em casa, num desses apartamentos de condomínios da Guerino, em Porto Alegre, cantarolando que o Grêmio tinha sido campeão da América. Meu pai usou a psicologia necessária ao momento:
- Olha aqui, piá: se eu te pegar de novo cantando essa merda, te dou uma porrada!
Depois disso, o coração se tingiu em definitivo de vermelho. Foi nessa época em que ouvi meu primeiro jogo do time, via rádio. Estávamos em cima de um caminhão cretino e velho, eu e todos meus amigos, ouvindo um modorrento Inter e Flamengo, joguinho meia-boca da Copa União...
Cheguei à sala. Meu pai e minha mãe olhavam incrédulos para o televisor. Minha gata dormia no sofá, alheia ao mundo cruel que a rodeava. Criei coragem de olhar para a tela.
- ... Adriano é o nome dele!!!
Não... não. O nome estava errado. O narrador estava redondamente enganado. Esse jogador era do Inter. Ouvi direitinho um apito do juiz: na certa, iria dar impedimento. Claro, era isso. Tava impedido. Ninguém faria um gol no Barcelona de 2006. Sabe, era o mesmo time que não fazia poucos dias que tinha enfiado 4 gols no América do México. Jogavam por música. Todos aqueles clichês estapafúrdios e batidos e previsíveis sobre o futebol-arte... tudo ao mesmo tempo num time só. Juntando isso a uma sorte e um marketing danado, tínhamos, então, o Barça do Deco e do Ronaldinho.
Eu ouvi o jogo contra o América na escola onde dou aula. Meus alunos só diziam “gol... é o quarto do Barcelona”. Um sentimento de incredulidade tomou conta da parte vermelha da garotada. Me olhavam como quem procurando um alento, um consolo com o irmão mais velho. Será que dava pra vencer? Sei lá... o Inter já tinha enfrentado o time catalão algumas vezes na história, mas em épocas diferentes e sem essa rivalidade. Nada disso importaria no dia 17 de dezembro. Os registros são resetados nessas horas.
Era gol mesmo do Inter. O narrador queria dar metade da taça pro sujeito que passou uma bola medonha pro tal Adriano. Eu nem lembrava da existência desse Adriano. Depois que saquei que a torcida colorada tinha bronca com um tal de Gabiru. Eu não tinha. Para mim, ele era o cara que entrou no lugar do ídolo Fernandão e era, a partir de então, o melhor jogador do mundo.
Acho que dois dias antes, na mesma escola, rapazes do 3º ano fizeram um bolão. Um pila a aposta. Placares absurdos, como 5x0 para o adversário do Inter, foram comuns. Eu apostei no contrário:
— 1x0 pro Colorado. Pode anotar!
Risadas. Claro, né? O Inter estava sem seus principais jogadores, vendidos depois da campanha da Libertadores, e ia enfrentar o bicho-papão do futebol europeu.
Depois do gol, depois que a ficha caiu de verdade, saí correndo pela sala de casa, minha gata cruzou na minha frente com o pavor do barulho da mesa de centro (que recebera uma porrada minha, de faceirice), quase piso nela, tum, tum, tum, meus pés fizeram ruído pesado no chão, abri a porta da sacada, me empoleirei na grade e gritei, como se tentasse reativar o espírito de Colorados mortos:
— Cadê o Ronaldinho? Cadê o Ronaldinho? HHAhAhaHA...
O resto todo mundo sabe: cobrança de falta dando cagaço na trave do Clemer, golpes de vista para tirar chutes grenás, defesas impossíveis, amarração, marcação, nó na garganta e o inferno. Ganhei R$ 6,75 do bolão, gastei em xis e refri pros meus amigos de aposta e entrei para minha própria história. Tudo teve um desfecho feliz naquela manhã quente de dezembro. Talvez tenha sido tudo por meu avô.
Talvez tenha sido algo premeditado mesmo, como disse Veríssimo. Aquele Inter e Flamengo, que eu escutei na rádio quando criança, tinha terminado num pachorrento 1x1.
publicado originalmente no Beco do Sapulha .
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O justiceiro
— Ai... eu gosto de tudo. Eu sou bem eclética!
Começamos mal. “Eclética” para mim é a criatura que ouve qualquer bosta que lhe oferecem e acha que está no hype por isso. Não faz o mínimo discernimento entre Rock e sertanejo pelo fato de não ter nem uma rasa cultura para diferenciar néctar de ranho. Denise era assim. Pobre alma.
Mas era gostosa, e isso é muito importante. Era morena jambo, do tipo vileira bonita. A cara entregava a casta, por mais que alisasse o cabelo certamente outrora pixaim. As coxas grossíssimas eram uma atração à parte: de tão fortes, raspavam uma nas outras, deixando o caminhar de Denise particularmente jocoso. Mas, enfim...
Combinei com ela para buscá-la à noite, naquele frio do início de inverno. Liguei meu mini-aquecedor (“tudo na casa desse cara é mini...”, já diria meu amigo Rodrigo) e busquei a Dê. Estava muito bonita, embora a roupa me desse a entender que seria um trabalho medonho para revelar aquele corpão.
Pessoas pixains. Pessoas crespas... deusducéu, como enfrentei isso em minha puta vida. A cada conquista, depois de gastar litros de meu Latim de boteco, eu pensava: “Puta merda, mais um conjunto mortífero de pelos encravados, braços arrepiados e cheiros pesados...”. Depende muito do nível social onde o cidadão ataca. Ou não. Eu já saí com mulheres que dariam orgulho aos nazistas, tal o sangue ariano... e, no fim, crespas. Gente mal cuidada, saca? Tão certo quanto esquadrias de janelas de prédios públicos saírem tortas, certo como bombons envelhecerem rápido, tão certo quanto velas fazerem luz solar em filmes é o fato de que eu pareço um gênio pra essa mulherada, só por organizar minimamente meu palavreado. É cômico.
Pensando melhor, eu mereço, pois já fiquei com meninas insuportáveis que tinham o peito de, deitadas em minha cama, largar bobagens obtusas nos meus ouvidos:
— Sabe, no início eu não gostava de ti, mas agora...
— ... mas agora tu tá aqui pelada na minha frente, né?
— Ai, guri idiota...
Denise era mais na dela. Logo se encantou por um maldito livro que eu estava lendo e que falava sobre Simbolismo. Se encantou comigo, na real, porque pareci um gênio... cê sabe. Disso para rebocá-la pra casa foi um tapa.
O que me irritava de verdade na morena era seu péssimo gosto musical. Prefiro não citar tudo o que eu sabia que ela ouvia. Seria constrangedor. Por mais que fosse um amor de pessoa, simpática, doce e levemente safada, ela tinha que ser punida sumária e exemplarmente. Uma tunda de laço naquela bunda fofa não ia ajudar em nada, mas deveria ser delicioso. Lembrei de quando Joana veio, numa tarde, aos meus braços, fugida novamente de seu marido:
— Ui, que música estranha é essa...?
— Shhhh... é Donovan... fica fria e deita aqui de novo.
Era isso: a punição seria espinafrar boa música na cara da vileira. Imagino ela saindo só com trabalhadores-braçais oblíquos sem um posicionamento filosófico convincente:
— Que música tu quer ouvir, Denise, meu amor?
— Tem pagode?
— Tem, claro... (entra no som do hino parobeense: “Deixa acontecê na-tu-ral-mente...”).
Falei em posicionamento filosófico? Bem, minha filosofia naquela noite foi anunciar que ela ouviria algo diferente. Fucei nos meus vinis e puxei o assustador “Cabeça dinossauro”, dos Titãs. A capa foi um impacto. Coloquei na vitrola e botei o volume alto o suficiente, direto na música título.

— E aí? Gostou? — perguntei sarcasticamente.
— É... diferente, né?
— Pode crer! Tá, vem logo pra cama...
Eu estava vingado: como uma torta de chantilly à la filme pastelão, joguei música boa nos cornos da mocinha. Vitória, rapaz! Você é mesmo um justiceiro do bom gosto. Hordas de cabeludos cabaços agradecem sua ousadia e entrega ao ideal roqueiro.
Ela se vingou também: sua roupa era realmente difícil de tirar e não saiu de seu corpo a noite toda.